As plantas: seres vivos e complexos

As plantas: seres vivos e complexos
17/11/2023
As plantas: seres vivos e complexos

As plantas constituem um dos três grandes grupos (reinos) de organismos multicelulares nos quais os seres vivos estão divididos. Os outros dois reinos são o animal e os dos micetos (fungos). Por ano descobrem-se quase 2.000 novas espécies e, até agora, foram descritas cerca de 400.000 espécies de plantas.

A unidade dos vivos: da célula animal à célula vegetal

As plantas, juntamente com animais e fungos, pertencem ao grande grupo dos organismos multicelulares, designados eucariotas, cujas células possuem núcleos e mitocôndrias. A maioria dos investigadores considera que os fósseis eucariotas mais antigos conhecidos teriam entre 2.100 e 2.700 milhões de anos.

célula animal aparece pela primeira vez devido à absorção por parte de uma célula primitiva de uma bactéria, que se tornou num organelo da mesma, a mitocôndria. A célula animal, que deve alimentar-se de constituintes orgânicos preexistentes, é designada de "heterotrófica".

Posteriormente, a célula vegetal formou-se há aproximadamente 1.600 milhões de anos devido à absorção adicional de uma alga azul fotossintética (cianobactéria) por parte de uma célula animal, tornando-se, por sua vez, noutro organelo da mesma, o cloroplasto. Esta nova célula, designada "autotrófica" e capaz de produzir a sua própria matéria orgânica a partir de sais minerais presentes no solo e de dióxido de carbono assimilado graças à energia solar, deu lugar ao aparecimento, na filogenia, da linha vegetal.

Características principais das plantas

Conforme acima mencionado, as plantas, ao contrário de animais e fungos, são organismos capazes de produzir a sua própria matéria orgânica graças ao sistema de fotossíntese, que se desenvolve nos cloroplastos com a ajuda de pigmentos verdes (clorofilas). As células vegetais também se distinguem das células animais pela presença de uma parede celular adicional que as rodeia e pela presença de determinadas moléculas particulares, como a linhina, que confere rigidez aos tecidos.

Por outro lado, são organismos que se fixam ao solo por meio do seu sistema radicular. Isto torna-os muito dependentes das condições do seu meio. Este caráter fixo obrigou-os, portanto, a desenvolver um grande número de estratégias para enfrentar as mudanças do seu meio vital, contrariamente aos animais, que podem deslocar-se em caso de alteração das condições.

| Por exemplo, o arroz tem mais de 50.000 genes, enquanto que o homem tem aproximadamente 26.000 genes. De acordo com Francis Hallé, um botânico especialista em ecologia das florestas tropicais húmidas, "se o arroz tiver o dobro dos genes que o homem, demonstra-se claramente que, na realidade, é um organismo mais complexo".

O papel das plantas nos ecossistemas

As plantas estão na base da cadeia alimentar, o que lhes confere um papel fundamental no funcionamento global da biosfera. São designadas "produtores primários”, uma vez que são capazes de produzir a sua própria matéria orgânica através da fotossíntese. Os vegetais são a fonte de qualquer cadeia alimentar tanto na terra como na água.

| Convém lembrar que a vida dos seres humanos depende completamente das plantas, não só pelo fornecimento de oxigénio, mas também para satisfazer as suas necessidades energéticas sob a forma de recursos fósseis acumulados ao longo de milhões de anos e para o fornecimento de medicamentos e de alimentos.

Sentidos, memória e comunicação no mundo vegetal

Sentidos, memória e comunicação no mundo vegetal

As plantas compreendem os estímulos do meio (chuva, vento, frio, calor, agressões dos herbívoros ou dos agentes patogénicos, etc.) e memorizam-nos por um período suficientemente longo, embora na realidade não memorizem os estímulos, mas sim o tipo de reação que devem desencadear. Esta capacidade é uma vantagem muito valiosa que permite às plantas elaborar uma resposta final integrada ao conjunto destes estímulos e das suas flutuações. Se uma planta compreende um estímulo ao qual foi previamente exposto, a sua resposta será mais intensa.

Na mesma altura dos primeiros estudos sobre a memória das plantas, no início dos anos 80, um biólogo e um químico, Jack Schultz e Ian Baldwin, abriram caminho para a demonstração de uma comunicação química entre as plantas, graças aos seus trabalhos publicados na prestigiosa revista científica Science [Baldwin 1983].

Assim, durante as últimas três décadas, revelou-se de forma progressiva a complexidade oculta do mundo vegetal graças aos avanços tecnológicos dos últimos anos e à perseverança dos investigadores que rejeitam posições dogmáticas. Surgiram novas áreas de estudo como a neurobiologia vegetal e inteligência das plantas.

"Quando as pessoas estiverem em condições de assumir que as plantas não são objetos passivos, como se fossem móveis, mas organismos evoluídos e muito sofisticados, então irão respeitá-las.”.

Stefano Mancuso, Universidade de Florença (Itália)

Bibliografia:

Baldwin IT, Schultz JC. Rapid changes in tree leaf chemistry induced by damage: evidence for communication between plants. Science 1983;221:277-9.
Baluska F, Mancuso S. Plant neurobiology. Plant Signal Behav 2009;4:475-6.
Campbell N, Reece J, Urry L, Cain M, Wasserman S, Minorsky P, Jackson R. Biologie, 9ª ed. Pearson Education, 2012.
Margulis L. Origin of eucaryotic cells. Yale University Press, 1970.
Thellier M, Desbiez MO, Champagnat P, Kergosien Y. Do memory processes occur also in plants ? Physiol Plant 1982;56:281-4.
Thellier M. Les plantes ont-elles une mémoire? Quae, 2015.
Vian A, Stankovic B, Davies E. Signalomics: Diversity and Methods of Analysis of Systemic Signals in Plants. In: Plantomics: the omics of plant science. Springer, 2015:459-490.